Jhuli Mielke*
Apresentada em dezembro de 2016 pelo então presidente Michel Temer,
a reforma da previdência foi retomada pelo atual governo, depois do Ministro da
Economia, Paulo Guedes, apresentar um novo projeto ao Congresso Nacional.
Defendida como uma das principais pautas do governo Bolsonaro, ela apresenta
uma ameaça enorme para todos os trabalhadores e também para nós,
estudantes. A falácia de que existe um rombo na previdência é o principal
argumento utilzado pelo governo a favor do projeto, o que poderia ser facilmente
resolvido se, ao invés de cortar os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, o
governo cobrasse os R$ 425 bilhões que as grandes empresas devem ao INSS.
A reforma sugere o fim da aposentadoria por tempo de contribuição,
aumentando para 65 a idade mínima de tempo de trabalho dos homens e 62 a
das mulheres. O modelo de previdência proposto faz com que, no lugar do INSS,
tenhamos que poupar determinada quantia de dinheiro mensalmente,
gerenciada por fundos de pensão, o que se tornaria um negócio altamente
lucrativo para os bancos. Um exemplo de que o modelo não funciona é o Chile,
onde 90% dos aposentados recebem menos que um salário mínimo, contribuindo
para colocar o país na primeira colocação entre os lugares com maior número
de suicídios entre os idosos da América Latina.
A reforma da previdência apresenta, assim como grande parte das
propostas do governo Bolsonaro, uma enorme ameaça aos estudantes. Se
aprovada, teremos que contribuir por 40 anos se quisermos nos aposentar
recebendo o teto pago pelo INSS. Pior ainda será para nós, mulheres, que
teremos que trabalhar no mínimo até os 62 anos, mesmo possuindo dupla
jornada de trabalho e, ainda por cima, muitas vezes sustentando filhos sozinhas,
o que mostra que o governo ignora por completo as desigualdades ainda
existentes no país.
Para quem está na licenciatura, o governo mostra que ignora por completo
o desgaste maior da profissão docente e sua desvalorização, aliás já existente, e
que pioraria ainda mais com a aprovação da reforma. O projeto exige que
docentes trabalhem até mais de 70 anos para conseguir um valor medíocre
mensalmente, aumentando em 10 anos o tempo de contribuição. Ou seja, se
você está na licenciatura e se forma com 25 anos, terá que trabalhar por pelo
menos mais 45 anos para conseguir uma aposentadoria minimamente decente.
Aliás, não seria o primeiro ataque à educação que o governo vem
promovendo. Os cortes na educação pública e mentiras espalhadas, como dizer
que as universidades públicas não fazem pesquisa, mostram a verdadeira guerra
que Bolsonaro quer promover contra os professores e, consequentemente, nós,
estudantes. Afinal, um dos lemas do governo é acabar com a doutrinação que
docentes promovem dentro das escolas. A reforma só reforça esse esteriótipo de
ódio à educação que o presidente mostra sentir.
Nosso papel como estudantes é, portanto, continuarmos na luta para
impedir e barrar de uma vez por todas essa reforma. Sabemos que é possível,
pois graças às greves e protestos que estamos fazendo já há dois anos,
mostrando nossa indignação quanto ao que estão nos propondo, conseguimos
adiar o primeiro projeto de reforma, apresentado pelo governo Temer. Não
podemos recuar, pois sabemos que eles não vão respeitar nossos direitos. Para
isso, é importante nos organizarmos e fazer a luta acontecer!
*Jhuli Mielke é estudante de Letras e militante da UJC.