Dorival
“São 19h do dia 28 de outubro de 2018. Estou em casa com minha família no bairro em que moramos em Curitiba.
Um misto de sentimento de tristeza, pavor histórico, silêncio e resignação assola meu peito enquanto ouço um vizinho descarregando uma arma de grosso calibre cujos estampidos, embora característicos, se misturam às explosões dos fogos de artifícios.
Ainda não sei direito qual sentimento escolher para levar comigo nesta semana que se inicia, mas me chega uma consciência de que ainda temos um trecho difícil para ser vivido. Talvez algum sacrifício inútil ainda seja necessário… Será?
Pela primeira vez, depois que minha juventude cronológica se distanciou um pouco, voltei a sentir receio de dizer, de declarar posição, receio de publicar o que agora registro e ainda mais de assinar este texto. Talvez fosse melhor publicar como que de outrem fosse para desviar os holofotes? Ao final terei que decidir. As pessoas com mais juventude acumulada me entenderão.
Estou agora confiando no universo e preciso querer acreditar que o que temos que passar seja realmente necessário para que uma consciência cidadã e de paz se apresente, lamentando apenas pelo seu alto custo.
Deus não tem culpa de nada e também não tem nada a ver com isso. As escolhas são nossas. Mas mesmo assim vou me atrever a, humildemente, pedir sua bênção. Que Deus nos abençoe como nação brasileira, ricos, pobres, brancos, negros, amarelos, índios, homens, mulheres, heteros, gays, minorias, maiorias, amados ou não, armados ou não. Preciso de alguns minutos para recompor a confiança. …pronto, confio.
Para terminar, o sentimento que escolho ficar, pelo menos por enquanto, é de quietude. Disponível para trabalhar pelo Brasil que desejo.”