EDITORIAL PÁTRIA DISTRAÍDA ELEIÇÕES

“Um dia, a Verdade e a Mentira se encontram. A Mentira diz à Verdade: ‘Hoje está um dia maravilhoso.’ A Verdade olha para o céu e suspira, pois o dia estava realmente lindo. Elas passam algum tempo juntas, chegando finalmente a um poço. A Mentira diz à Verdade: ‘A água está muito boa, vamos tomar um banho juntas!’ A Verdade, mais uma vez desconfiada, testa a água e descobre que realmente está muito gostosa. Elas se despem e começam a tomar banho. De repente, a Mentira sai da água, veste as roupas da Verdade e foge.

A Verdade, furiosa, sai do poço e corre para encontrar a Mentira e pegar suas roupas de volta.

O mundo, vendo a Verdade nua, desvia o olhar com desprezo e raiva.

A pobre Verdade volta ao poço e desaparece para sempre, escondendo nele sua vergonha. Desde então, a Mentira viaja ao redor do mundo vestida como Verdade, satisfazendo as necessidades da sociedade. Porque o mundo não nutre o menor desejo de encontrar a Verdade nua.”[1]

O contexto político brasileiro vive às turras com a mentira travestida de verdade, com a raiva sangrenta dos chamados homens de bem contra as maiorias esquecidas, com a alusão à Pátria como bem absoluto em favor de interesses escusos, com Deus apropriado em favor de grupos inomináveis e servido a gosto em self-services individuais, e ainda com o crescimento de milícias armadas a decidir sobre a vida e morte de quem pensa de modo diverso.

Essa situação não acontece por acaso! O discurso belicista, misógino, antissolidário, contra a reciprocidade e repleto de fakes a lhe dar veracidade, cresce e é alimentado pelos representantes do poder constituído.

A revista Pátria Distraída não se cala diante desse contexto, nem diante do assassinato aberto da democracia e a ameaça permanente à sua continuidade. Mesmo tendo como crença que a democracia representativa atual não é de nem para todos, está a serviço de alguns e tem dono, e também que apenas existirá democracia política quando se constituir a democracia econômica, social e cultural, o momento atual necessita de posicionamentos claros e insofismáveis.

Pátria Distraída não faz parte ou defende nenhum partido específico, mas é frontalmente contra o estado de coisas instalado pelo atual grupo no poder, ele já gastou as palavras e as prostituiu: Nação, pátria, democracia, bandeira nacional, justiça… transformaram-se em jargões da insanidade.

Não se pode pensar em democracia ou sociedade justa quando ela só é possível com a condenação de quarenta por cento da população à miséria, à fome e à morte por desnutrição ou colapso de esperança. Isso significa um holocausto permanente, que condena os mais pobres a morrer antes, as crianças a ser subnutridas ou subtratadas e os idosos a perder as esperanças e alegrias por falta de cuidados do Estado e de remédios que não podem mais comprar.

Não se pode estabelecer uma linha divisória de quem pode ou não viver com dignidade. A vida, a esperança, a felicidade, o direito de rir, a cultura coletiva, a comida, a saúde, a moradia e a reciprocidade entre as pessoas estão sendo mortos, o país dividido e os sem nome condenados a definitivamente não existir ou não fazer parte da Nação.

É necessário reconquistar a esperança. É urgente ressonhar os sonhos, pois quando a gente sonha outros sonhos, novos sonhadores virão enquanto estivermos sonhando e o mundo poderá reconquistar a beleza e a lindeza a ser vividas.

O Brasil não pode ser visto como propriedade de alguns, mesmo quando afirmam que pátria, deus e a família estão acima de tudo, pois a pátria tem sido devastada e dividida pelo discurso de ódio contra quem pensa diferente, a família separada pela impossibilidade de comungar à mesma mesa e discutir com o irmão, pai ou mãe sem que se vejam como inimigos e deus foi comprado para uma opção política que separa, mata e esquece o outro.

Por essas e outras tantas razões, Pátria Distraída defende que este é o momento de opção política na perspectiva da esperança e do sonho de poder reconstruir o país e as reciprocidades pessoais e coletivas. Não defende o voto útil, por que o utilitarismo está no sangue com que flui a exploração coletiva e no discurso obsceno dos atuais senhores que controlam o poder da República. Defendemos o voto necessário e de esperança para um Brasil mais justo e igualitário. Defendemos que dia 2 de outubro se vote pela esperança e pelo refazer de sonhos, afim de que a partir do dia 4 se possa iniciar uma nova luta que garanta a democracia política, social, econômica e cultural no país.

Por isso, nossa defesa é que se vote treze (13) para a Presidência da República, Governo do estado e nos candidatos do legislativo comprometidos com a reconstrução de um Brasil para todos, sem fome, com empregos, democracia plena, unidade nacional e solidariedade entre seus cidadãos, para que o amanhã seja outro dia e este tempo cinzento dê lugar à luz de novos horizontes.


[1] SOUZA, Jessé. Parábola Judaica. In: SOUZA, Jessé. A classe média no espelho. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2018. p. 6.

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