São Paulo, 6 de abril de 2022
Em março, o valor do conjunto dos alimentos básicos aumentou em todas as capitais onde o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) realiza mensalmente a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos. As altas mais expressivas ocorreram no Rio de Janeiro (7,65%), em Curitiba (7,46%), São Paulo (6,36%) e Campo Grande (5,51%). A menor variação foi registrada em Salvador (1,46%).
São Paulo foi a capital onde a cesta apresentou o maior custo (R$ 761,19) em março, seguida pelo Rio de Janeiro (R$ 750,71), por Florianópolis (R$ 745,47) e Porto Alegre (R$ 734,28). Nas cidades do Norte e Nordeste, onde a composição da cesta é diferente das demais capitais, os menores valores médios foram registrados em Aracaju (R$ 524,99), Salvador (R$ 560,39) e Recife (R$ 561,57).
A comparação do valor da cesta em 12 meses, ou seja, entre março de 2022 e março de 2021, mostrou que todas as capitais tiveram alta de preços, com variações que oscilaram entre 11,99%, em Aracaju, a 29,44%, em Campo Grande.
Com base na cesta mais cara, que, em março, foi a de São Paulo, e levando em consideração a determinação constitucional que estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para suprir as despesas de um trabalhador e da família dele com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência, o DIEESE estima mensalmente o valor do salário mínimo necessário. Em março de 2022, o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria equivaler a R$ 6.394,76, ou 5,28 vezes o mínimo de R$ 1.212,00. Em fevereiro, o valor necessário era de R$ 6.012,18, ou 4,96 vezes o piso mínimo. Em março de 2021, o valor do mínimo necessário deveria ter sido de R$ 5.315,74, ou 4,83 vezes o mínimo vigente na época, de R$ 1.100,00.
TABELA 1
Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos
Custo e variação da cesta básica em 17 capitais
Brasil – março de 2022
Capital | Valor da cesta | Variação mensal (%) | Porcentagem do Salário Mínimo Líquido | Tempo de trabalho | Variação no ano (%) | Variação em 12 meses (%) |
São Paulo | 761,19 | 6,36 | 67,90 | 138h10m | 10,24 | 21,60 |
Rio de Janeiro | 750,71 | 7,65 | 66,96 | 136h16m | 12,68 | 22,55 |
Florianópolis | 745,47 | 5,36 | 66,49 | 135h19m | 8,11 | 17,81 |
Porto Alegre | 734,28 | 5,51 | 65,50 | 133h17m | 7,52 | 17,79 |
Campo Grande | 715,81 | 5,51 | 63,85 | 129h56m | 11,61 | 29,44 |
Vitória | 704,93 | 3,28 | 62,88 | 127h58m | 6,48 | 18,10 |
Brasília | 704,65 | 5,02 | 62,85 | 127h55m | 13,37 | 21,33 |
Curitiba | 701,59 | 7,46 | 62,58 | 127h21m | 11,64 | 21,56 |
Belo Horizonte | 669,47 | 4,28 | 59,72 | 121h31m | 10,63 | 20,48 |
Goiânia | 663,48 | 3,49 | 59,18 | 120h26m | 11,09 | 20,18 |
Fortaleza | 635,02 | 4,17 | 56,64 | 115h16m | 9,66 | 22,82 |
Belém | 585,91 | 1,92 | 52,26 | 106h21m | 5,21 | 13,60 |
Natal | 575,33 | 3,25 | 51,32 | 104h26m | 8,65 | 20,47 |
João Pessoa | 567,84 | 3,37 | 50,65 | 103h04m | 11,16 | 18,67 |
Recife | 561,57 | 2,25 | 50,09 | 101h56m | 5,48 | 21,73 |
Salvador | 560,39 | 1,46 | 49,99 | 101h43m | 8,14 | 21,49 |
Aracaju | 524,99 | 1,58 | 46,83 | 95h18m | 9,82 | 11,99 |
Fonte: DIEESE
Cesta x salário mínimo
Em março de 2022, o tempo médio necessário para adquirir os produtos da cesta básica foi de 119 horas e 11 minutos, maior do que o registrado em fevereiro, de 114 horas e 11 minutos. Em março de 2021, a jornada necessária foi calculada em 109 horas e 18 minutos.
Quando se compara o custo da cesta e o salário mínimo líquido, ou seja, após o desconto de 7,5% referente à Previdência Social, verifica-se que o trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometeu em média, em março de 2022, 58,57% do rendimento para adquirir os produtos da cesta, mais do que em fevereiro, quando o percentual foi de 56,11%. Em março de 2021, quando o salário mínimo era de R$ 1.100,00, o percentual ficou em 53,71%.
Comportamento dos preços dos produtos da cesta[1]
- O preço do feijão aumentou em todas as capitais. Para o tipo carioquinha, pesquisado no Norte, Nordeste, Centro-Oeste, em Belo Horizonte e São Paulo, as altas oscilaram entre 1,43%, em Recife, e 14,78%, em Belo Horizonte. Já o preço do feijão preto, pesquisado nas capitais do Sul, em Vitória e no Rio de Janeiro, apresentou taxas entre 1,07%, em Porto Alegre, e 6,80%, em Vitória. Mesmo com a fraca demanda interna, houve elevação dos preços devido à baixa oferta do grão carioca e à redução da área plantada. Em relação ao tipo preto, a alta verificada nas cidades pode estar associada ao crescimento da procura nos centros consumidores.
- O óleo de soja registrou aumento em todas as capitais, entre fevereiro e março. As variações positivas oscilaram entre 2,81%, em Belém, e 15,89%, em Salvador. Os aumentos no mercado externo e no varejo podem ser explicados pelo alto preço do petróleo, que torna vantajosa a produção de biocombustíveis. Além disso, houve aumento da demanda externa por óleo de soja, devido à redução da produção de óleo de girassol na Ucrânia e de óleo de palma na Indonésia.
- O preço do quilo do pão francês aumentou em todas as cidades, em consequência da redução da oferta de trigo no mercado externo, uma vez que Rússia e Ucrânia estão entre os maiores produtores mundiais do grão. As altas mais expressivas foram observadas em Aracaju (6,63%), Goiânia (6,36%), Porto Alegre (6,13%) e Natal (5,87%). Também a farinha de trigo, coletada na região Centro-Sul, apresentou elevações expressivas, com destaque para as taxas de Vitória (9,30%), Campo Grande (8,90%), Goiânia (5,75%), e Porto Alegre (5,30%).
- O valor médio da farinha de mandioca, pesquisada no Norte e Nordeste, teve elevação em todas as cidades. As maiores variações foram registradas em Aracaju (13,52%), João Pessoa (8,94%) e Fortaleza (4,89%). A menor oferta da raiz e o clima desfavorável elevaram os preços da farinha no varejo.
- O preço do quilo do tomate apresentou alta em 16 capitais, exceto em Aracaju
(-2,52%). As principais elevações ocorreram em Curitiba (57,73%), Campo Grande (51,74%), Rio de Janeiro (47,31%), Florianópolis (36,24%) e São Paulo (35,36%). O menor volume de tomates ofertados, com a aproximação do final da safra de verão, provocou o aumento nos preços do fruto. - O leite integral registrou elevação de preços em 16 cidades, em março. As maiores altas aconteceram em Belo Horizonte (13,09%), Porto Alegre (9,84%), Vitória (9,17%), Curitiba (8,73%) e Goiânia (8,37%). O aumento nos custos da produção de leite, a diminuição nos estoques de derivados lácteos e a competição por matéria-prima entre as indústrias sustentaram a elevação nas cotações do leite UHT.
- Em março de 2022, o preço do quilo do açúcar subiu em 15 capitais, não variou em Brasília e diminuiu em Vitória (-0,77%). As altas mais importantes aconteceram em Salvador (3,13%), Natal (2,31%) e Belo Horizonte (1,71%). A entressafra de cana reduziu a oferta e elevou os valores no varejo.
- O preço do quilo da manteiga aumentou em 15 capitais. As altas mais expressivas ocorreram em Belo Horizonte (5,19%), Goiânia (4,41%), Curitiba (3,83%) e Natal (3,13%). A menor oferta de leite fez crescer a importação de manteiga em março, o que explica as altas de preços no varejo.
São Paulo
Em março de 2022, a cesta básica de São Paulo apresentou aumento de 6,36% em relação a fevereiro; custou R$ 761,19 e foi a mais cara entre as capitais pesquisadas. Em comparação com março de 2021, a cesta acumulou elevação de 21,60%. Na variação acumulada ao longo do ano, o aumento é de 10,24%.
Em março, 12 dos 13 produtos que compõem a cesta básica tiveram aumento nos preços médios na comparação com fevereiro. Foram registradas elevações de preços para os seguintes itens: tomate (35,36%), batata (15,36%), feijão carioquinha (8,62%), café em pó (8,31%), óleo de soja (6,69%), leite integral (6,64%), farinha de trigo (4,70%), arroz agulhinha (4,07%), carne bovina de primeira (3,32%), pão francês (2,78%), açúcar refinado (0,95%) e manteiga (0,77%). Apenas a banana teve recuo de preço (-8,66%).
No acumulado dos últimos 12 meses, também 12 dos 13 produtos tiveram alta: tomate (93,37%), café em pó (72,30%), açúcar refinado (46,21%), batata (34,58%), manteiga (24,70%), óleo de soja (24,14%), farinha de trigo (15,58%), carne bovina de primeira (13,36%), pão francês (12,76%), leite integral (9,03%), banana (6,50%) e feijão carioquinha (6,13%). Somente o arroz agulhinha acumulou taxa negativa (-15,23%).
O morador de São Paulo, cuja remuneração equivale ao salário mínimo de R$ 1.212,00, precisou trabalhar durante 138 horas e 10 minutos para adquirir a cesta básica em março de 2022. Em fevereiro de 2022, o tempo de trabalho necessário foi de 129 horas e 54 minutos e, em março de 2021, de 125 horas e 12 minutos.
Considerando o salário mínimo líquido, em março de 2022, após o desconto de 7,5% da Previdência Social, o trabalhador precisou comprometer 67,90% da remuneração para adquirir os produtos de uma cesta básica, suficiente para alimentar um adulto durante um mês. Em fevereiro de 2022, o percentual foi de 63,83% e, em março de 2021, ficou em 61,52%.
[1] Fontes de consulta: Cepea – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – ESALQ/USP, Unifeijão, Conab – Companhia Nacional de Abastecimento, Embrapa, Agrolink, Globo Rural, artigos diversos em jornais e revistas.