DEBATE: RÚSSIA/UCRÂNIA E A GEOPOLÍTICA, COM MAURO BRAGA – 15/03/22 — 19.00

Debatedores: Francisco Carlos Rehme e Narciso Pires

Links: : ATENCÃO – ABAIXO ESTÃO OS DOIS LINKS PARA O DEBATE (Ás 19.00 muda-se para o segundo link).

https://meet.google.com/yaq-ysya-eow 19,00 Parte 1

: https://meet.google.com/qxb-jbti-cjh Parte 2

Quem é Mauro Braga: Mauro Braga, geógrafo formado pela UFPR, , músico profissional, professor aposentado, apaixonado por geopolítica, geografia agrária e geografia ambiental, lecionou 26 anos na rede particular (Ensino Medio), trabalhou como educador com o MST (ensino superior) esteve presente em algumas edições do Fórum Social Mundial ; foi presidente da Associação Cultural José Marti-PR de Solideriedade a Cuba; atuou em pesquisas sobre a Reforna agrária junto às ONGs Terra de Direitos e DESER.

O Assunto: A escalada militar Russa na Ucrânia tem recebido as mais variadas análises e merecido apaixonados debates entre as mais variadas correntes políticas no país e mundo afora. Situar-se criticamente neste contexto tem sido difícil e, na verdade, não cair em preconceitos grosseiros transformou-se em esforço insano.

É mais fácil aceitar posicionamentos corriqueiros, aprofundando a visão de que a Rússia é o demônio encarnado ou que é uma santa sem manchas de impureza. No Brasil, a sombra do “terror comunista” ajuda a direita a dar as cores ao debate e à parte da esquerda a defendê-la sem muita criticidade.

A proposta deste Debate é buscar uma análise da Geopolítica mundial eda ação das grandes potências em seus esforços para mantes zonas de influência, de intervenção e/ou exploração. Uma expressão popular costuma lembrar que “num econtro de dois elefantes, quando brigam ou fazem amor, quem é pisoteada é a grama.”. Faltaria, talvez, acrescentar que a grama das potências são sempre preservadas e os embates acontecem em países ou nações “perifèricas”, onde se testa as armas, as forças de influência e a capacidade de dominação.

Assim foi no Iraque com a invasão dos EUA, no Afeganistão com a União Soviética e, depois, os EUA e na Líbia com França e Inglaterra.,embora pareça que a comoção tenha sido menor na mídia e entre a massa da população, poís tais conflitos não aconteciam no continente europeu (civiizadfo, branco e de olhos azuis). A questão da Russia e Ucrânia precisa ser vista neste contexto e no jogo Geopolítico entre Ocidente (EUA, Europa, OTAN) e a Rússia ou China e suas zonas de influência.

Isso não transforma as guerras em boas ou más. Toda guerra é pernóstiva e assassina centenas e milhares de pessoas. A população civil e as soberanias das nações são violadas, ainda que sob os “mais justificáveis” argumentos. Se não razões plausíveis ineneta-se uma (vide armas químicas do Iraque). As suas consequências acabam tendo extensão planetária com maior sofrimento e empobrtecimento dos povos “de periferia”, seja a nível mundial ou na periferia dos países de menor influência nos negócios globais.

Patria Distraida se propõe debater esta questão e busca contribuir com o aprofundamento da visão acerca do mundo e do Brasil (com sua posição dúbia, para dizer o mínimo). Para ajudar na preparação do Debate, publicamos abaixo um texto de produção de autor vinculado ao DIEESE e alguns links com focos diversos que ampliam a visão deste conflito.

Objetivo número um do Império: destruir a Rússia

José Álvaro de Lima Cardoso (Economista)

A Rússia iniciou a operação militar de desmilitarização da Ucrânia na madrugada do
dia 24, quinta-feira. A ação foi fulminante: em 48 horas a Rússia já havia desativado,
com ataques de alta precisão, cerca de 220 instalações militares da Ucrânia, incluindo
sistema de defesa antiaérea, aeródromos militares e aviação em geral. Os
acontecimentos da Ucrânia representam, provavelmente, os fatos mais impactantes na
política internacional nas últimas décadas, e que certamente terão grande influência
sobre a economia e a política mundiais. Estamos assistindo, ao que tudo indica, a uma
verdadeira ruptura histórica com o quadro vigente nas relações internacionais. Apesar
dos fatos estarem em transformação a cada dia, e, portanto, ser difícil uma análise mais
conclusiva, eles representam uma ruptura que deve mexer profundamente com o
cenário político internacional.
Na Europa, desde o final da Segunda Grande Guerra, este é o confronto militar mais
importante. A ousadia e a determinação da Rússia, no enfrentamento de um país testade ferro norte-americano na região, se constitui um marco da luta contra o imperialismo
mundial. O Império está sendo confrontado por uma potência regional, que age com
estratégia cuidadosamente elaborada, muito forte militarmente, apesar da inferiorade
econômica. A Rússia é um país pobre, cuja principal fonte de receitas de exportações
advém das commodities, em especial as energéticas. É um dos maiores produtores de
petróleo e tem a maior reserva de gás do mundo, sendo responsável pelo fornecimento
de mais de 40% de toda a demanda europeia do produto (o que é um forte complicador
em qualquer guerra).
Em função da instabilidade trazida pela guerra, que a cada momento traz um fato
novo para o cenário e, também, pelas graves sanções impostas à Rússia pelos países
ocidentais, o preço do petróleo bruto disparou e a cotação do rublo caiu quase 30% até
o momento. A Rússia, foi bloqueada por alguns bancos do sistema global de
pagamentos Swift (a Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias
Mundiais é um sistema de mensagens criado por bancos de vários locais do mundo em
1973, visando possibilitar a troca de moeda entre diferentes países de forma rápida e
segur). Claro, como “ninguém é de ferro”, os especuladores aproveitam para ganhar
dinheiro com a guerra.
A guerra contra a Ucrânia é contra a Otan (organização militar dos países ricos,
dominada pelos EUA). A Ucrânia está servindo como bucha de canhão para os
objetivos imperialistas dos países da Otan, especialmente, os EUA, que é a cabeça do
Império, também conhecido como o “Império da mentira”. Não se trata de uma
confrontação entre dois países imperialistas. Toda a ação da Rússia no processo foi
defensiva. A operação militar desencadeada pela Russia ocorreu após 8 anos de
provocações por parte da Ucrânia, e do fato deste país ter extrapolado as “linhas
críticas” da segurança geopolítica da Rússia e da região. É necessário lermos e
ouvirmos os analistas independentes, não podemos ficar reféns das mentiras que os
EUA espanham pelo mundo. Sobre o assunto, em 25 de fevereiro a missão diplomática
chinesa na Rússia registrou em sua conta no Twitter uma informação que ajuda a
entender o que ocorre na Ucrânia: “dos 248 conflitos armados ocorridos entre 1945 e
2001 em 153 regiões do mundo, 201 foram iniciados pelos EUA, o que representa 81%
do número total”. Os 19% restantes foram iniciados pelos demais países do mundo.
Conforme era de conhecimento do mundo, a diferença de capacidade militar entre
Ucrânia e Rússia é abissal. A Rússia deu início à invasão da Ucrânia na última quintafeira (24), com bombardeios e incursões terrestres de suas tropas em vários pontos do
país, inclusive perto da capital, Kiev. O ataque foi impressionante e avassalador. Em
cerca de 48 horas foi destruída praticamente toda a infraestrutura militar da Ucrânia.
Em quatro dias de guerra, as negociações para estabelecer a paz já iniciaram, o que a
eficiência da estratégia utilizada pela Rússia. Aquilo que Putin solicitou durante meses,
a negociação para evitar a guerra, o governo ucraniano só aceitou mediante a iminência
de uma derrota completa. O governo ucraniano errou todas as avaliações e
diagnósticos até aqui, a começar pela medição da correlação de forças com o inimigo.
Zelensky imaginou que o Ocidente o defenderia: errou. Imaginou que poderia, quem
sabe, enfrentar as forças armadas russas, de igual para igual: errou. Achou que haveria
resistência de civis: errou feio. É impossível enfrentar uma guerra, sem diagnóstico
adequado, especialmente com um inimigo que sabe o que está fazendo.
A Ucrânia atualmente tem um governo assumidamente neonazista, fruto de um golpe
coordenado pelos Estados Unidos em 2014. Após o golpe, Putin suportou provocações
de todos o tipo durante anos. O governo russo obviamente mediu bem as
consequências da guerra antes, e sabe que o preço será alto (já sendo, como vimos
acima), pois o bloqueio econômico de vários países poderosos do mundo será muito
pesado. Ainda que não absoluto, porque a segunda economia do mundo, a China, que
tem assumido posição discreta, mas corajosa, está fora do bloqueio e manterá relações
econômicas e políticas com a Rússia, normalmente.
A Rússia vinha tentando negociar, há meses. Já em 17 de dezembro divulgou um
documento preliminar, do que seria um acordo que pretendia firmar com os EUA para
evitar a guerra com a Ucrânia. Basicamente pedia que os EUA se comprometessem a
“impedir uma maior expansão para o leste da Organização do Tratado do Atlântico
Norte (Otan) e a negar a adesão à aliança aos estados da antiga União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas”. Para cumprir o acordo, a Otan teria que sair da Estônia, Letônia
e Lituânia. Pelo documento apresentado, seria também vetada a possível entrada da
Ucrânia na Otan. Além disso, a Rússia também solicita a devolução, aos respectivos
territórios (Rússia e EUA), de armas nucleares já posicionadas em outros países. Desde
dezembro, cerca de 100.000 soldados russos já estavam concentrados próximo à
fronteira e a Ucrânia temia uma invasão do país.
O governo Biden forçou, o tempo todo, para que a guerra acontecesse. A estratégia
de Biden é recuperar terreno perdido em relação à Rússia e China, no referente à vários
aspectos, especialmente o geopolítico. Esta é uma política do governo norte-americano,
do pentágono, e da chamada máquina de guerra norte-americana. Não é somente de
Biden, que aliás faz parte dessa máquina. Biden é um homem da guerra. Quando
ocorreram os golpes na América Latina toda, durante o governo de Obama, o vice era
o Biden. Ele foi vice nos dois mandatos de Obama. Foi o homem dos golpes na América
Latina, possivelmente ajudou a coordená-los. A guerra na Ucrânia decorre
principalmente do comportamento agressivo dos países imperialistas, puxado
especialmente pelos EUA.
Os países imperialistas europeus, como Inglaterra, Alemanha e França, com
nuances, no geral apoiam a política do império estadunidense na região. Apesar dos
evidentes prejuízos sociais e econômicos que já estão tendo com a guerra. A Ucrânia,
que é um país independente, poderia fazer parte da Rússia, como gostam de lembrar
os analistas internacionais bem-informados e independentes. Mas é um país que, sem
dúvidas, faz parte do cordão de defesa do território russo, sendo estratégico para a
segurança da Rússia.
Nos últimos meses, ao mesmo tempo em que Putin se preparava silenciosamente
para a possibilidade de guerra, ele fez uma intensa ofensiva diplomática, tentando abrir
o diálogo com os EUA e os demais países imperialistas, e até com países menos
protagonistas em política internacional, no sentido de evitar um agravamento da crise,
em uma região tão crítica. Putin enfrenta um inimigo sem nenhum escrúpulo e muito
mais recursos: o orçamento militar da Rússia para 2022, US$ 65 bilhões, é uma fração
do orçamento estadunidense, de R$ 768 bilhões (8,5%).
O governo russo vinha denunciando durante meses que os EUA e a Otan
(organização do Tratado do Atlântico Norte) mantêm um comportamento provocador,
além de fornecer armas para a Ucrânia e realizar exercícios militares perto da fronteira
russa, a menos de 20 KM. Putin denunciou, inclusive, que os EUA fizeram simulação
de um ataque nuclear, no começo de novembro, na Ucrânia. O governo Putin tem
denunciado também ações de glorificação do Nazismo e Neonazismo na Ucrânia,
inclusive com a celebração de manifestações públicas em nome da glorificação do
passado nazista, do movimento nazista e do neonazismo. Segundo Moscou são
frequentes a profanação e a demolição de monumentos construídos em memória dos
que combateram o Nazismo na Segunda Guerra Mundial. Essas iniciativas têm o apoio,
tácito ou explicito, do governo da Ucrânia.
Tudo indica até agora que Biden não tem preparo, condição, para enfrentar a maior
crise que o imperialismo teve em toda a sua história, que combina instabilidade
econômica, com derrotas militares e políticas. A derrota que Biden amargou no
Afeganistão no ano passado, país conhecido como “cemitério dos impérios”, foi
simplesmente acachapante. O Talibã impôs uma derrota ao exército mais rico do
mundo, superior à que os EUA experimentaram em Saigon, há quase meio século atrás.
É consenso, mesmo entre a maioria dos analistas puxa sacos do império, que Biden
tomou um “vareio” de Putin, nos campos diplomático, político e, principalmente, agora,
militar.
Enquanto os norte-americanos perderam no Afeganistão, nos últimos anos os
russos ganharam todas as guerras em que participaram: Geórgia, Ucrânia, Síria. A
Rússia consegue fazer muito com poucos recursos. Como potência regional que é,
dispõe de forças armadas muito eficientes, com equipamento modernos e grande
atualização tecnológica. Uma outra questão é que o governo russo tem bem definido o
que quer com suas forças armadas, o que permite um correto planejamento estratégico
e constância de propósitos.
Os acontecimentos na Ucrânia mostram uma impotência dos EUA, que se limitam a
criticar e denunciar, mas sem entrar diretamente na guerra, como aconteceu em tantos
outros momentos. O país se limitou a empurrar o despreparado governo da Ucrânia
para o enfrentamento com, possivelmente, as forças armadas mais competentes do
planeta neste momento, e apenas ajudando com armas e dinheiro. Mas sem entrar
diretamente na guerra. O presidente da Ucrânia, que parece ter “caído a ficha” somente
agora, reclamou após o ínicio da operação militar, que foi abandonado pelo Ocidente.
Sejamos realistas: os EUA jogaram a Ucrânia num fogo sem tamanho. Essa derrota
abre espaço, inclusive, para processos de libertação nacional em várias regiões do
mundo, pois muitos países oprimidos podem aproveitar que o Império está fraco e
começar a romper com a relação neocolonial. Não me refiro à governos totalmente
capachos, evidentemente.
Para entender a natureza da “democracia” nos países imperialistas, precisamos
saber que o orçamento militar dos EUA para este ano, de US$ 768 bilhões, é superior
aos orçamentos militares somados dos 10 países seguintes com os maiores
orçamentos. Os Estados Unidos, além de suas frotas de porta aviões, navios e
submarinos nucleares que cruzam os mares de todo o mundo, possuem mais de 700
bases militares terrestres fora de seu território nacional nos mais diversos países. Eles
conseguiram essas bases através de tratados e do peso da economia norte-americana,
do imperialismo norte-americano. Russos e os chineses não têm esse poderio. O
Império norte-americano está numa crise sem precedentes e precisa subjugar seus
principais inimigos. Por isso, o quadro internacional daqui para a frente tende a
esquentar.

Outros:

Ucrânia, por que a crise? – https://diplomatique.org.br/ucrania-por-que-a-crise/

É possível ser radicalmente contra a Otan, contra a guerra e contra Putin, diz cientista político: https://www.cartacapital.com.br/mundo/e-possivel-ser-radicalmente-contra-a-otan-contra-a-guerra-e-contra-putin-diz-cientista-politico/

Video -Chomski, sobre a reação da Rússia – https://www-diariodocentrodomundo-com-br.cdn.ampproject.org/c/s/www.diariodocentrodomundo.com.br/chomsky-reacao-da-russia-a-otan/amp/

Bernie Sanders – https://www-diariodocentrodomundo-com-br.cdn.ampproject.org/c/s/www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/bernie-sanders-critica-eua-russos/amp/

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