UMA DEFESA NECESSÁRIA

Quando falamos em cotas ou políticas afirmativas, falamos de reparação histórica, mas por que reparação? Por que no brasil nós tivemos 354 anos de escravidão do povo negro mesmo com a abolição o Estado Brasileiro instituiu leis que reforçaram a discriminação e influenciaram na constituição social e cultura, principalmente em como as pessoas pretas seriam tratados e vistos e quais direitos teriam.
Para a população preta, não se criou formas de inclusão, das senzalas para as favelas. E isso trouxe consequências sociais e culturais, e essas consequências são vistas ainda hoje no Brasil, não à toa que hoje, entre os mais pobres 75% são pretas. Políticas afirmativas surgem como uma importante baliza para diminuir a desigualdade para negras e negros ou grupos de pessoas que tiveram ou têm menores oportunidades de ascensão social ou diferenciação de tratamento e oportunidade perante outras pessoas. As cotas não foram instituídas através da boa vontade, foram direitos conquistados, através de muita luta. Não podemos esquecer que até pouco tempos as pessoas pretas conquistaram o direito ao voto e adiante a maioria não tinha oportunidade de adentrar na universidade.
Assim como não se pode tratar desigualmente os desiguais para a promoção de uma efetiva igualdade. Se há situações desiguais, não se pode aplicar o conceito de igualdade abstrata porque é na realidade concretamente que se verifica a desigualdade. Indivíduos que estão em situação de desigualdade e marginalização social precisam de mecanismos que visem o acesso dela à cidadania e aos direitos.
Hoje em dia nós temos cotas para todos os âmbitos sociais, para todo tipo de pessoa, mas então porque a cota em universidade pública para pretas e pretos causa tanto desconforto? Nada mais que racismo. E isto é um ponto para pensarmos em como o racismo se manifesta na nossa sociedade. Não é somente ofender, agredir ou defender que pessoas pretas são menos capazes, o olhar sobre a negritude e tudo que envolve ela carrega alguns preconceitos reforçados pela estrutura cultural e social que forja o olhar racional e inferiorizante sobre o outro.
A desigualdade existente no Brasil, se calcifica através de um recorte de raça. Dentro de um sistema econômico como é o da nossa sociedade, a classificação da raça se faz importante para a super exploração e controle social de determinados sujeitos. De acordo com Silvio de Almeida – O racismo é o elemento legitimador de toda a forma de violência social, de desigualdade, de exploração e de todas as opressões que estão vinculadas à exploração.
Ações afirmativas como as cotas, dão oportunidade de participação de pretas e pretos num espaço social de privilégio, dentro da universidade partilham desse espaços, outros debates ligados a realidade desse indivíduos passa a ser pauta. A motivações para produção científica, principalmente nas humanidades, trazem não só uma simbologia de igualdade, mas outras epistemologias e análises teóricas que de certa forma subvertem e contestam a lógica de supremacia branca e colonial.
Ao mesmo tempo o Ingresso de pessoas pretas trouxe a ideia de que a universidade deve se ampliar e se abrir para diversos outros indivíduos e grupos sociais que antes não tinham sequer chance de acesso, assim como foi a luta pelo direito das mulheres de estudar. Em paralelo às tentativas de desmonte da universidade pública, o ataque as cotas, surge como estratégia para retirar determinados indivíduos que lutaram e continuarão lutando para permanecer nesse espaço. Logo a retirada de cotas é a retirada de sujeitos de oposição ao desmonte da educação superior pública.
Por conta disso, dizer que é anti-racista e ser contra as cotas é, no mínimo, uma contradição, ignorância história e da realidade dos pretos e pretas nesse país, ou simplesmente racismo.
CAHIS – CENTRO ACADÊMICO DE HISTÓRIA DA UFPR